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Rio Amazonas unindo países

Um pequeno olhar à imensa história de cultura da tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Perú
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Homem Tigre do Alto Javari Indigena tícuna do Rio Amazonas

A força da cultura da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru

Vamos nos situar na tríplice fronteira amazônica, onde convergem três países: Brasil, Colômbia e Peru, um rio que une em seu curso grupos étnicos, povoados, cidades, um rio que muda de nome ou que, ao se unir a outro, torna-se um só, no grande rio marinho “o rio Amazonas”, três países, dois deles com uma geografia que compartilham com a Cordilheira dos Andes; Ali, no alto dos Andes, estão imersos os povos originários da tríplice fronteira amazônica, dando continuidade às suas cosmogonias sagradas, à tradição oral e aos costumes que compõem a força imbatível do homem amazônico e de seu ambiente em todo o seu esplendor. 

Os povos nativos inspiram festivais populares e unem países

O Vale Yavari, na Amazônia brasileira, está localizado no extremo oeste do estado do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru. Seu nome vem da origem do rio Yavari, um rio de águas claras que flui nessa área. Aproximadamente 3.000 mil indígenas vivem lá, alguns deles já em contato com a “civilização”, entre os mais reconhecidos estão os Marubos, Kanamari, os Matis (os últimos caçadores da floresta, os homens-tigres), os Kulina e os Matsés. Os isolados de Quixito, os isolados de Itaguaí (Korubo), os isolados de Jandiatuba, os isolados de Alto Jutaí, os isolados de São José, os isolados de Rio Branco, os isolados do Médio Javari e os isolados de Jaquirana-Amburus. Todos esses povos isolados somam mais de dez aldeias identificadas a partir do ar, e pouco se sabe sobre eles ou seus idiomas.

Analisamos esses grupos étnicos, sua força, sua raça e seus mitos, suas lendas que transcenderam seu território para se tornarem alegorias, canções, danças e músicas nas festividades. Os isolados são chamados de menestreis que anunciam a entrada de sua intervenção em cada alegoria ou dança tribal, apresentam danças em uníssono em movimentos ancestrais, ritmos da selva, com o surdo e o charango, dois instrumentos que os intérpretes compartilham nas interpretações da música do altiplano andino e da Amazônia brasileira em uma das maiores e mais exaltadas festas populares do mundo, onde seus nomes, seus costumes e seus mitos são recitados e cantados. Em Parintins manifestou-se pela primeira vez no Amazonas, em 1965, uma festa popular que foi criando raízes e pertence a parte do território amazônico brasileiro, sendo celebrada em outras localidades, como Manaus, Benjamin Constant, Tabatinga entre outras localidades da geografia amazônica brasileira, contagiando os demais países vizinhos Peru e Colômbia com o ritmo contagiante das toadas de bumba-meu-boi, já na geografia tripartite o termo dança da onça preta e da onça pintada é usado em relação ao tigre borboleta e ao tigre preto, vale ressaltar que o Bumba-meu-boi é uma manifestação folclórica teatral que aparece pela primeira vez na fronteira entre a Colômbia e o Brasil em 1987, nas festividades de 26 a 29 de junho em San Juan ou festas juninas, desde então, a manifestação popular tem sido realizada nos feriados nacionais do Brasil, de 4 a 7, e depois disso finalmente acontece em outubro, sem data definida. Os tambores (Zurdo ou Treme Terra) estão batendo desde maio na expectativa de uma nova versão da Festa Folclórica das tribos do Alto Solimões, que é o nome definitivo da festa popular.

Como o maior grupo étnico, não apenas no contexto da fronteira, mas também em outras latitudes geográficas, os verdadeiros donos do território, de acordo com alguns acadêmicos de hoje, sem ignorar os extintos Omáguas e, exaltando-os na história de nosso território. Os Maguta (Ticunas), os homens da água são, atualmente, cerca de 8.000.000 de membros em todo o território da tríplice fronteira. Os tikunas e outros grupos étnicos da tríplice fronteira não falam de fronteiras, mas de um único território, o território humano, como o russo Yevgeny Alieksándrovich Yevtushenko escreveu certa vez em um poema, quando viu impotente, um navio de carga sendo devorado pelas chamas em um incêndio.

“Quão importante é qualquer notícia, se estou mergulhado em seu silêncio Letícia.

Se do outro lado você vê um navio afundando, vê fogo subindo, subindo.

O navio arde em fogo, meu coração arde, porque alguém me disse: é tarde para salvá-lo. Você está se sentindo bem?

Porque alguém me disse de forma cruel e desumana:

O que é importante é o território peruano.

Estamos carregando uma carga muito perigosa.

Afundamos como navios em um incêndio ruivo.

O que é nossa vida?

Um jogo com fogo.

Queimamos, queimamos e desaparecemos nesse fogo

Não existe território peruano

Nem russo nem colombiano.

Nosso globo terrestre é território humano”.

Nossos índios dizem: “A chuva e as águas não pedem licença, não têm passaporte para correr, para seguir sua costa até o oceano, ou para bater, a natureza não tem fronteiras, o povo amazônico também não tem fronteiras”.

Os Ticunas organizaram suas próprias festividades em suas respectivas localidades com fortes raízes sonoras na língua Ticuna e na fusão musical com a cumbia, festividades do povo Ticuna em Umariaçú, Tabatinga, Brasil e San Sebastián, em Letícia, Colômbia (Festa da Água do povo Ticuna), festividades onde todos os grupos Ticuna dos países da tríplice fronteira se encontram. O impulso musical e cultural desse grupo étnico tem suas raízes na cumbia peruana, o que levou o povo Ticuna a participar de eventos locais na tríplice fronteira, contagiando outros grupos étnicos e povos colonizadores que migram da Colômbia para a região.

Não podemos ignorar os Shipibos, que ocupam parte do território peruano de Loreto, pois seus domínios se estendiam ao longo dos vales do rio Apurímac, bem como uma pequena parte da região do Alto Ucayali, na região de Ucayali, além de outros grupos étnicos, como os Kukama Kukamiria, a tribo Shuar, os Yaguas, estes últimos chegaram à tríplice fronteira com intenções turísticas nas décadas de 60 e 70, trazidos por um cônsul greco-americano, do grupo étnico Yagua com pouca relevância cultural, concentrando-se em seu ambiente tribal, visto mais como uma atração turística até hoje 2024, por outro lado, os Kukamas ou Cocamas, hoje resilientes, eram um grupo étnico que trabalhava na agricultura e que se estabeleceu em 1900 na fazenda La Victoria (o conflito, a guerra, e a invenção da fronteira) Amazônia 1900-1940 Carlos G. Zárate Botía. Eram 400 Cocamas trabalhando para a empresa peruana Hacienda la Victoria, onde hoje é a reserva Ronda. No passado, quando esse território de fronteira tripla tinha apenas a presença, a produção e o assentamento da autoridade peruana, o legado cultural recebido desse grupo étnico era pequeno. Atualmente, grupos organizados estão tentando reconstruir sua cultura e idioma.

Atualmente, artistas plásticos com fortes raízes Shipillos são uma das influências pictóricas, como a da cidade de Pucallpa, “o centro amazônico da pintura Usko-Ayar” (príncipe espiritual, em quíchua), que durante décadas prevaleceu na tríplice fronteira.

Em 2023, eles se encontraram em um evento de fronteira tripla em sua primeira exposição internacional chamada “Uniendo Fronteras” . Em apenas um ano, a coordenação do evento reuniu cerca de 8 artistas visuais, a grande maioria deles de origem indígena peruana.

Da mesma forma, apesar dos massacres dos seringueiros da empresa de Julio Arana, que massacraram mais de 60 mil indígenas entre Uitotos, Murui e outras etnias, levando uma grande parte desse grupo indígena a quase seu extermínio, hoje suas canções e tradições são compartilhadas em festividades de grande importância na tríplice fronteira. O espaço histórico dos Uitotos – Murui, bem como de outros grupos étnicos vítimas do massacre da seringa, são os protagonistas deste 2024, o governo colombiano celebra os 100 anos da obra literária “La Vorágine” do escritor colombiano José Eustasio Rivera, eventos a serem realizados em toda a geografia colombiana, incluindo a Amazônia colombiana, epicentro da narrativa literária.

Um rio que se torna o grande Amazonas

O que causou o nascimento do rio Amazonas é controverso. Alguns acadêmicos e geógrafos dizem que ele se origina do córrego Apacheta, nas montanhas Quehuisha cobertas de neve, em Arequipa, Peru, a 5.170 metros acima do nível do mar, na Cordilheira dos Andes. Mas em cada lugar da Amazônia, os habitantes daquele lugar dizem que seu nascimento é ali, como em Nauta, sua magnitude na união, sua agonia na secura de centenas de praias ou sua mudança literal de um nome para outro.

Segundo os moradores do território próximo ao local por onde passa o rio, a Amazônia nasce ali! A cultura da água, estando na confluência dos rios Maranhão e Ucayali, em frente a Nauta e à Reserva Nacional Pacaya Samiria, navegável em sua totalidade, ao passar pela tríplice fronteira o rio é chamado de Amazonas e posteriormente chamado ou transformado no rio Solimões, corresponde no Brasil ao trecho do rio Amazonas entre a tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru e a cidade de Manaus. Seu curso percorre o estado do Amazonas, passando pelo Estreito de Breves, no estado do Pará, até chegar ao grande oceano, penetrando a mais de 2 quilômetros da costa no Oceano Atlântico, Brasil.

O rio Solimões passa pelas cidades de Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins, Jutaí, Fonte Boa, Tefé, Coarí, Codajás, Anamã, Anori, Manacapurú, totalizando aproximadamente 1.700 km até chegar a Manaus, onde se encontra com o rio Negro, passando a se chamar rio Amazonas.

Essa diversidade multicultural dos povos do rio Amazonas em seu curso e a cultura da água que banham as margens de todos os países, cidades, grupos étnicos ao longo de seu caminho, aqui na tríplice fronteira converge essa força da água que inspira esse mistério. Da selva às canções dos artistas, da pintura às artes, sua biodiversidade, a resiliência das pessoas que fazem de suas experiências uma canção para a cultura, uma canção para a vida, onde se encontram muitas das expressões artísticas dos povos da tríplice fronteira.

Os religiosos (catalães) na história cultural da tríplice fronteira

Em outra fase da história está a presença dos catalães da Igreja Católica em 1930, transferindo com eles a presença das artes de conteúdo hagiográfico que infundiam a cultura religiosa àquelas do contexto fronteiriço local, através da música, teatro, literatura entre outros, bem como o intercâmbio esportivo da época, sendo este um aspecto forte na área de convivência nas cidades da época na tríplice fronteira, já na década de oitenta iniciou-se outra fase de alto fortalecimento da cultura.

Década de oitenta, a revolução cultural na tríplice fronteira

O teatro aparece como protagonista, gerando eventos contínuos como o Dia do Teatro Amazonas, então, é o cantor que vem fortalecer o que antes uniam as três fronteiras, os eventos esportivos fronteiriços, nascidos nesse movimento cultural e com ele o surgimento do Festival da Fraternidade Amazônica.

“Durante todo o Carnaval Fraterno. Desde a época da Ação Cultural até este festival de lembranças, cantores do Peru, poetas da Colômbia, os dançarinos de Lia Sampaio do Brasil, os pintores Ayahuasca, discípulos de Pablo Amaringo, Xamãs das culturas amazônicas, e claro, pintores de sisal, esculturas de bloodwood, representantes do teatro sagrado ancestral e também do profano de signo mestiço e muitos outros mestres da cultura e receptores da região e do outro lado das fronteiras convencionais vindos de Manaus, Rio de Janeiro, Lima, Bogotá, Moscou, Paris. Uma Babel que, ao desfilar em seu carnaval fraterno, lembra que a amizade e a fraternidade são mais fortes do que a força daqueles que ainda insistem em ver a Amazônia como um território para testar coronelismos tardios. Não é a razão da força e da autoridade que subjuga um território adverso à dominação, é uma força da razão e da integração. (…) Hugo Niño Barbosa. Prêmio Casa de las Américas de Havana, Cuba 1976 e 2008. Livro dos 25 anos do Festival da Confraria Amazônica 2013.

Veja a linha de outros eventos ao longo da história cultural da Amazônia: o festival de música popular amazônica, essa iniciativa logo deu origem ao Festival Internacional de Música Pirarucú de Oro, naqueles anos a primeira instituição cultural “Junta Regional del Amazonas” 1984-1993, sem esquecer de outros que entraram para a história como eventos de grande relevância e riqueza cultural da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, eventos massivos que reúnem aproximadamente entre 10 mil e 25 mil pessoas em suas edições criando um vínculo de fraternidade entre os países vizinhos. Não podemos dizer que tudo são flores, pois vemos o abandono por parte dos governos da tríplice fronteira da nossa imensurável riqueza cultural Amazônia, patrimônio imaterial da humanidade.

As utopias e os quixotes continuam sonhando e caminhando

Os processos são contemporâneos, nasce uma nova iniciativa de algumas organizações, quando uma carta é entregue aos dois presidentes do Brasil, Lula da Silva, e ao presidente da Colômbia, Gustavo Petro, em um encontro fronteiriço “Caminho para a Cúpula”, os signatários 78 organizações locais de todas as fronteiras, entre as 10 que o Brasil tem, nasce o impulso para organizar uma série de eventos que unirão as fronteiras com o objetivo de confraternizar e compartilhar experiências fronteiriças, que, eles chamam de “Entre Rios e Raízes, Diálogos Transfronteiriços”, a transversalidade da Cultura para o desenvolvimento dos povos.





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Julio Marquez Cuevas

Político e indigenista, Gestor Cultural, director, productor, actor de cine y televisión. Asesor de cooperación internacional

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