Uma especialidade nova no Brasil
Apesar de ainda não ser uma especialidade no Brasil, o tratamento clínico de problemas comportamentais animal está em crescimento no país. Internacionalmente a especialidade pode ser conhecida como psiquiatria veterinária, etologia clínica veterinária, medicina veterinária comportamental, entre outros. Médicos veterinários capacitados podem atuar em todas as frentes do tratamento de problemas comportamentais animal e abordar aspectos físicos e psíquicos a fim de propiciar o bem-estar animal e familiar.
Portanto, a atuação profissional vai além do olhar ao paciente, abrangendo também as pessoas e outros animais do convívio, a residência em que vivem e locais que o mesmo frequenta como parques, ruas, creche, pet shop, além de consultórios médicos veterinários.
Pilares da terapia comportamental
A terapia comportamental é baseada em Três Pilares: Adaptação Ambiental; Modificação Comportamental; Psicofarmacologia. Todos os três pilares são de extrema importância e contribuem para a resolução de problemas em diferentes níveis.
A adaptação ambiental consiste no provimento de local seguro com múltiplos recursos ambientais essenciais para os animais de estimação (ex: comida, água, banheiro, áreas com objetos para brincar, descansar e dormir). Além de propiciar interações sociais positivas, sólidas e previsíveis com humanos e outros animais, da mesma espécie ou não, quando há essa possibilidade de contato. É fundamental que no ambiente o animal de estimação tenha a possibilidade de desenvolver territorialidade e estimular os sentidos visual, tátil, gustativo e olfatório.
A modificação comportamental é pautada pelo Behaivorismo (Comportamentismo ou Comportamentalismo) ramo da Psicologia. Os Behavioristas acreditam que todos os comportamentos são resultados de experiências e condicionamentos e podem ser estudados por meio de observações. Utiliza-se então, técnicas para alterar comportamentos indesejáveis ou construir comportamentos desejáveis. A modificação é estruturada com base nos modelos de condicionamento clássico (Pavlov) e condicionamento operante (Skinner), esse último, modelo dos quadrantes de reforçadores e punições. As técnicas utilizadas podem ser as de marcação de comportamento, autocontrole/escolha, dessensibilização, contra-condicionamento e condicionamento básico. O quadrante punição (+) do modelo de Skinner não deve ser empregado como metodologia de treino e correção de comportamentos indesejáveis. Pois, há grande chance de agravar uma condição ou de desenvolver respostas indesejadas devido à insegurança que a punição pode gerar.
As substâncias psicoativas podem ser subdivididas em ao menos seis linhas de utilização para auxiliar na resolução de problemas comportamentais. São elas: o uso de alopatia (exclusivo do Médico Veterinário), nutracêuticos, feromônios, fitoterápicos, homeopatia e florais. Ou seja, as substâncias psicoativas podem ser consideradas como facilitadoras de alterações psíquicas manifestadas através da cognição, do estado emocional, da personalidade ou do próprio comportamento. No geral, as substâncias psicoativas agem sobre o sistema nervoso central com diferentes respostas, entre elas: ansiolíticas; antidepresivas; estabilizadoras de humor; antipsicóticas. A fim de, trazer o organismo a uma condição mais próxima possível de homeostase neurobiológica e de equilíbrio vital.
Quando, como e onde procurar ajuda?
Muitos tutores se encontram aflitos perante uma situação inesperada causada por seu animal de estimação e ficam sem saber como ou aonde procurar ajuda.
Muitas vezes essas angústias são compartilhadas com familiares, amigos, outros tutores ou relatadas aos clínicos dentro do consultório veterinário. Por desconhecimento da existência da área de atuação em comportamento animal, frequentemente os animais com problemas comportamentais são encaminhados a adestradores capacitados em condicionamento ou tratados em consultórios veterinários apenas com psicofármacos sem levar em conta os outros dois pilares.
Quando falamos da adaptação ambiental e modificação comportamental os profissionais adestradores, terapeutas comportamentais e estudiosos do tema com formação na área são capacitados para conduzir planos terapêuticos a fim de solucionar problemas comportamentais de diferentes naturezas sem que os mesmos tenham relação com a clínica ou alguma patologia. Já o pilar da psicofarmacologia é de atuação exclusiva do profissional médico veterinário. Sendo assim, o médico veterinário que atua na área do comportamento é o único profissional que dispõe de todas as ferramentas para a realização de prevenção, diagnóstico e tratamento de distúrbios comportamentais dos nossos animais de estimação.
Principais queixas comportamentais.
Para entender o que é um problema comportamental se faz imprescindível saber quais são os comportamentos normais e esperados para a espécie em questão. Roer, arranhar, cavar, vocalizar, se lamber, fazer as necessidades, defender território e a família faz parte do repertório natural de cães e gatos, as duas espécies mais comuns nos lares do Brasil. Entretanto, cães, gatos, aves e pets exóticos possuem necessidades diferentes e propiciá-las e atendê-las é fundamental para o bem-estar. Qualquer falha na disponibilidade das necessidades individuais influenciará diretamente na qualidade de vida do animal e nas respostas comportamentais aos estímulos que o rodeiam. Podendo assim, gerar comportamentos indesejados quebrando a harmonia e bem-estar comunitário. Portanto, o conhecimento correto do comportamento e de seus mecanismos evolutivos, fisiológicos e neurobioquímicos permitem prevenir, diagnosticar e tratar os problemas enfrentados por animais de estimação.
Os principais problemas comportamentais expressados por nossos pets são: Agressividade, ansiedade, compulsão, lambedura excessiva, automutilação, eliminação indesejada (urinar e defecar), vocalização excessiva, fobias (medos), apatia (depressão), destruição de mobílias, coprofagia (ingerir as próprias fezes) entre outros. Cada expressão comportamental, individualidade presente em cada animal de estimação e o meio ambiente influenciarão na maneira com que a proposta e a intervenção comportamental serão conduzidas.
Problemas comportamentais é a principal causa de abandono e eutanásia de animais de companhia.
No Brasil há mais cães e gatos em domicílios do que crianças, a tendência é que essa diferença aumente a cada ano. Uma vez que, as famílias brasileiras estão tendo menos filhos e acabam procurando apoio emocional nos pets. Ao mesmo tempo, o número de animais abandonados ou doados devido a problemas comportamentais está crescendo no país.
Atualmente o tratamento de problemas comportamentais enfrenta resistência dentro da sociedade e sofre negligência por parte de alguns profissionais que atuam no mercado pet.
Por isso, o engajamento da família humana para a resolução de problemas comportamentais dos animais de estimação é fundamental e costumo dizer aos tutores que a adesão deles ao tratamento é o quarto pilar da terapia comportamental e talvez o mais importante para alcançar um resultado positivo.