Meu avô paterno é uma das referências que tenho, por toda sua história de vida, todos os desafios que enfrentou, a forma com que o fez, mas principalmente pela porção da vida dele que eu acompanhei mais de perto
Antes de começar o artigo propriamente dito, gostaria de contextualizar a razão que me fez pesquisar e escrever sobre esse tema. Meu avô paterno é uma das referências que tenho, por toda sua história de vida, todos os desafios que enfrentou, a forma com que o fez, mas principalmente pela porção da vida dele que eu acompanhei mais de perto. Hoje com 85 anos, meu avô já está mais fragilizado, a saúde mental oscila, ele já não se lembra das coisas como lembrava antes, ele já não se exercitava da forma que fazia até uns anos atrás, e, para mim, isso aconteceu quase que de repente. Ele era o cara que acordava 6h da manhã, corria, pedalava, sempre foi praticante de atividades físicas, fazia as aulas de tênis dele, que começou aos 65 anos de idade, se alimentava bem, tinha uma vida social ativa, ele nem era chamado pelo nome ou pelo título, ele simplesmente é o mestre, tomava café em casa e depois com os porteiros do bloco em que morava, era simplesmente uma entidade da comunidade que habitava, em viagens para a praia era quem jogava bola, corria, entrava no mar, e isso para mim foi ontem. Depois de uma mudança de residência, uma alteração nas rotinas, a perda dos compromissos esportivos, eu vi, e ainda vejo a saúde dele definhar, os esquecimentos, atos simples como sentar e levantar ficando mais difíceis, o isolamento, a falta de motivação para sair de casa, e não é um processo fácil acompanhar isso, afinal, ele é um dos meus herois. Passar por isso de forma tão próxima, me fez refletir muito sobre o envelhecimento e formas de tornar esse processo mais rico em todos os aspectos.
O envolvimento em novos aprendizados pode ajudar a preencher esse vazio e a criar um novo senso de propósito
Nos últimos anos, a expectativa de vida do brasileiro teve um aumento significativo, graças a melhorias nas condições de saúde, acesso a serviços médicos e avanços na nutrição. Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida alcançou cerca de 76 anos. Esse crescimento é resultado direto da redução da mortalidade infantil, controle de doenças e conscientização sobre hábitos saudáveis.
Enquanto seres humanos somos feitos para viver em grupos, comunidades, sociedade, e essa sensação de pertencimento nos move e por muitas vezes nos esforçamos para sermos produtivos em nosso meio, aprendemos, desenvolvemos, buscamos a excelência, seja a área que for para alcançarmos nossa ideia de sucesso, mas quando chegamos na aposentadoria, na velhice, almejamos a sensação de dever cumprido e então podemos descansar, mas esse descanso vai se alongando, começa a virar tédio, e nossa expectativa de vida vai aumentando, e o que fazemos com nosso tempo livre? Quem somos nós sem nosso ofício?
Essa transição pode ser desafiadora, pois muitos se veem perdendo parte de sua identidade. Para enfrentar essa realidade, é essencial redescobrir interesses, cultivar hobbies e buscar novas formas de contribuição. O envolvimento em novos aprendizados pode ajudar a preencher esse vazio e a criar um novo senso de propósito.
A transição de um estilo de vida ativo e estruturado para a inatividade pode gerar sentimento de perda
Assim, ao invés de enxergar a aposentadoria como um fim, é possível vê-la como um novo começo, uma oportunidade de explorar novas facetas de si mesmo e de continuar a construir relacionamentos significativos e experiências enriquecedoras.
O desafio é garantir que esse envelhecimento ocorra com qualidade de vida, de forma saudável e ativa para todas as camadas da população. Embora envelhecer traga desafios, como a perda de entes queridos, problemas de saúde e isolamento social, a depressão, embora em idosos muitas vezes seja subdiagnosticada e subtratada, não é uma parte inevitável de envelhecer. A transição de um estilo de vida ativo e estruturado para a inatividade pode gerar sentimento de perda.
Mudanças na rotina e nas relações sociais podem aumentar a fragilidade emocional, levando a um ciclo de inatividade e desmotivação. Para combater isso, é fundamental que se busque maneiras de se manter ativos, seja por meio de exercícios físicos, hobbies que estimulem a criatividade, ou que promovam a socialização.
Isso reflete a experiência que muitos enfrentam ao se aposentarem, uma perda de conexão e a sensação de ser deixado de lado
A criação de novos objetivos e a manutenção de um estilo de vida engajado são essenciais para fortalecer a saúde mental e emocional. Programas comunitários, grupos de apoio e atividades intergeracionais podem ajudar a fomentar um ambiente positivo, onde os idosos se sintam valorizados e conectados.
Foi conduzido um estudo neurológico num grupo de pessoas dentro de uma máquina de ressonância magnética, que consistia em um jogo simples onde a pessoa era uma mão, e existiam outros 2 personagens, e o objetivo desse jogo era simplesmente fazer uma bola passar por todos os 3 elementos, mas em determinado momento do jogo, a bola parava de passar pela mão que era controlada pelo humano, e ele era obrigado a assistir os 2 outros jogadores ficarem passando a bola entre si, os resultados mostraram que a exclusão social ativa áreas do cérebro relacionadas à dor física, indicando que a sensação de rejeição pode ser tão intensa quanto a dor física. Isso reflete a experiência que muitos enfrentam ao se aposentarem, uma perda de conexão e a sensação de ser deixado de lado.
A prática de esportes traz diversos benefícios para idosos, contribui para a melhoria da saúde física e mental. As questões físicas são a parte mais óbvia, melhora a força muscular, a flexibilidade e o equilíbrio, reduz o risco de quedas e lesões, estimula a circulação e auxilia no controle de doenças como hipertensão e diabetes, mas quero focar esse artigo na parte mental, que eu acredito ser o catalizador de um processo de psicossomatização positivo.
Ao promover um estado mental mais saudável
O envolvimento em atividades físicas ajuda a combater a solidão e o isolamento, promovendo a socialização e o fortalecimento de vínculos sociais. Isso é essencial, pois a interação social está diretamente relacionada à melhoria do bem-estar emocional.
Além disso, a atividade física libera endorfinas, hormônios que atuam como analgésicos naturais e melhoram o humor, reduzindo sintomas de ansiedade e depressão. A prática regular de esportes também pode aumentar a autoestima e a autoconfiança, permitindo que nossos anciãos se sintam mais ativos e independentes.
A conexão entre mente e corpo é fundamental, e a atividade física pode ser vista como um catalisador para um processo de psicossomatização positivo. Ao promover um estado mental mais saudável, os idosos são mais propensos a adotar hábitos de vida saudáveis, enfrentar desafios emocionais e, assim, reduzir a manifestação de sintomas físicos relacionados ao estresse e à ansiedade.
Claro que o ideal era sempre estar ativo, praticando, mas, uma ideia importante que queria deixar aqui, é que nunca é tarde para começar.
Participar de ações em grupo promove a interação social, ajudando a reduzir a solidão e o isolamento, aumenta a motivação, uma vez que os participantes se incentivam mutuamente a manter a regularidade e a se esforçar mais, nunca é tarde para aprender e desenvolver novas habilidades e se manter mentalmente ativo, o que é essencial para a saúde cognitiva, fora isso, os grupos oferecem um ambiente de apoio emocional, onde os participantes podem compartilhar experiências e enfrentar desafios juntos, fortalecendo os laços comunitários.
Eu foquei esse artigo nas atividades esportivas como uma estratégia valiosa para melhorar a qualidade de vida dos idosos, contribuindo para um envelhecimento mais ativo, feliz e saudável, mas entendo que não necessariamente apenas o esporte tem esse poder, um voluntariado, uma horta comunitária, passeios, outras modalidades podem exercer esse papel também. Claro que o ideal era sempre estar ativo, praticando, mas, uma ideia importante que queria deixar aqui, é que nunca é tarde para começar. Incentivar quem sempre esteve lá por nós, quem serviu de exemplo e referência, é o mínimo que podemos fazer.