Antes de examinar a casa para comprar, examine os vizinhos
O Mundo contemporâneo sinaliza uma tendência comportamental para o distanciamento das pessoas, e assim, ficamos permeados de medo e solidão. Com relação a ter intimidade com vizinhos, os argumentos são justificados pelas seguintes palavras: barulhentos; fuxiqueiros; passeiam com o cachorro sem coleiras e sem vacinação; só sabem censurar os outros, ou seja, adotam aquele provérbio árabe que diz: “Antes de examinar a casa para comprar, examine os vizinhos”. Infelizmente, existem pessoas que não sabem respeitar os outros, gerando discórdia e desarmonia.
Cíntia Brunelli, é uma operadora do direito e da publicidade que procura levar o conhecimento das leis a todos os brasileiros. Segundo ela, quando se tem um vizinho barulhento, com um som perturbador, e você tenta dialogar de todas as formas sem êxito, o primeiro passo é você informar-se, que as leis protegem o direito ao sossego. E, de forma educada, você pode elaborar uma notificação extrajudicial, onde você fará um alerta sobre os prejuízos que está sofrendo devido ao incômodo da situação.
Se a perturbação do som continuar, você poderá gravar vídeos, ir até a delegacia da polícia civil e fazer um boletim de ocorrência, o que posteriormente poderá servir de provas, pois existe a lei de contravenções penais, que no seu artigo 42, fala das consequências jurídicas, de quem não respeita o direito ao sossego do seu vizinho. O diálogo é importante, pois por desconhecer a lei, a pessoa que está fazendo uso do som alto, posteriormente ao ser intimada pelo Juizado Especial Civil poderá responder a um processo de condenação ou até a pagar uma indenização por danos morais, dependendo da gravidade da conduta.
“E você? É firme e forte nos laços afetivos e sociais com os seus vizinhos?”
Às vezes até sabemos que morreu algum familiar do vizinho, mas não nos importamos, ficamos indiferentes, pois é melhor estarmos conectados com uma pessoa que nem conhecemos e mora em Londres, do que fazer uma visita solidária ao vizinho. E a justificativa é: Há! Eu não sei nem o nome do meu vizinho…
Existem também, aqueles que orgulhosamente fazem questão de dizer que o “meu vizinho é fulano de tal”. E aqueles que acham que “a grama do vizinho é sempre mais verde”.
O Roberto Carlos ao escrever sobre o assunto falou de um sonho que teve, em que entrou no quintal do vizinho e plantou uma flor, e no dia seguinte viu que o vizinho estava sorrindo.
“Se você passar mal às 3:00 horas da manhã, pode contar com seus vizinhos?”
As pesquisas científicas afirmam que a construção social de uma boa vizinhança traz benefícios para todos, e contribui para os valores éticos de solidariedade, fraternidade, compaixão, bondade, e compreensão, entre outros.
O interessante é que todos querem exercer a sua cidadania, entretanto, a maioria só sabe exigir os seus direitos, esquecendo-se que a prática cidadã pressupõe também “deveres”. Nesse sentido, temos os nossos deveres com os nossos vizinhos, mesmo que eles não os cumpram. Por exemplo, se seu vizinho estiver com o pai dele na UTI, será que ele vai poder descansar para estar no outro dia no hospital, quando você desrespeitando uma regra do condomínio coloca o som alto em comemoração a um aniversário, e ultrapassa o horário estabelecido que é 22 horas?
Seus vizinhos fazem parte da sua rede de contatos, projetos, fluxos de trabalhos coletivos, ou da sua vida social?
Educação no relacionamento social é norma básica. Então, porque ficar conversando na porta do elevador, quando existem outras pessoas que precisam sair para cumprir seus horários? Porque assustar as pessoas com seu animal de estimação, quando a regra é que eles, no elevador, devem usar focinheira, além de estarem no colo do dono, pois podem avançar em alguém.
Assim, um cumprimento de bom dia, um sorriso, um com licença, um por favor, um abrir uma porta quando perceber que o seu vizinho está com as mãos ocupadas, é sempre bem-vindo. Falta de elegância é só olhar o próprio umbigo, o que se denomina alienação. É por isso que a regra social máxima, hoje em dia, é o combate à corrupção. Tem coisa pior do que você saber de uma verba que iria, por exemplo, beneficiar várias pessoas idosas, ser desviada por um cidadão que vai usar esse dinheiro para proveito próprio? E, não pense que isso afeta só os idosos, este comportamento irá repercutir em você, no pagamento dos seus impostos, e em toda a sociedade.
Mas, e o seu vizinho no local de trabalho? Será que ele também não merece a sua cooperação, discrição, gentileza, a sua consideração? Quais são as marcas que você está deixando nos seus vizinhos? De uma pessoa educada e atenciosa? Que nota você receberia do porteiro de seu local de serviço? E dos seus vizinhos do prédio?
“Cada um é responsável pela harmonia do todo, e pela paz que leva ao mundo”
O que estamos fazendo para melhorar o local em que vivemos? Isso chama-se consciência social, ou seja, é estar atento para as preocupações e necessidades das pessoas que estão ao nosso lado. É não ficarmos egoisticamente vendo os nossos interesses particulares, e isolados dos outros.
“Quando a casa do vizinho está pegando fogo, a minha casa está em perigo” horácio
A nossa segurança também depende das ações dos nossos vizinhos. Imagine um vizinho que esquece o fogão ligado, e sai correndo às pressas para ir trabalhar…
Avalie também, a possibilidade de chegar embriagado, falando alto, criando discórdia, e sair discutindo com todos os vizinhos, pessoas que você terá que conviver por muito tempo. Que ambiente desagradável para todos, não?
“Quem tem telhado de vidro, não atira pedra no do vizinho”
Imagine que você usou a churrasqueira do prédio, saiu sujando as áreas do seu edifício e todo mundo viu. Será que você pode reclamar, porque jogaram sorvete e lixo no seu carro?
“Código de ética das relações interpessoais: trate os outros, como gostaria de ser tratado”
A Memória nos informa sobre o sentimento de gratidão que guardamos em nós, quando lembramos de uma boa ação que recebemos. Assim, ao nos recordarmos dessa pessoa, pela lei da reciprocidade, retribuiremos de acordo com a sua conduta. Entretanto, existem exceções, ainda bem.
Para ilustrar a exceção acima mencionada, cito um exemplo que aconteceu comigo. Tinha uma tarefa na universidade, estava atrasada para entregá-la, pois também deveria ir ao hospital acompanhar meu irmão numa cirurgia de risco. Saí apressadamente, passei por minha vizinha correndo sem nem a cumprimentar.
Depois da faculdade fui para o hospital, a cirurgia demorou muito, quando vi já era noite, fui até a lanchonete e me encontrei justamente com a vizinha que vi naquela manhã. Ela disse-me que trabalhava no hospital, e eu lhe falei que estava aguardando notícias do meu irmão. Nos despedimos, e, mais tarde, quando estava sentada numa cadeira, balançando as pernas de forma ansiosa, pude sentir uma mão amiga a me dizer: fique tranquila, vá para a casa descansar, tá tudo bem com o seu irmão, disse a minha vizinha.
Como disse o Velho Guerreiro Chacrinha: “QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA”.
É preciso prestar atenção aos outros, para aprender, aceitar e acolher as nossas falhas humanas com suavidade e não com severidade, ter compaixão da gente quando erra, e usar os nossos desacertos para aprender a acertar.
“Pense quando era criança, você brincava, caía, e se levantava sem orgulho nem culpa, apenas certa de que tinha o direito de tentar mais uma vez”
A Frase supramencionada é de autoria de Amaral (2020), o autor enfatiza que a culpa proporciona essa capacidade de compreender as nossas faltas e se refazer. Não é para ficar se martirizando pelo tropeço, é levantar-se e aprender a fazer melhor. É para isso que serve a queda, para a gente melhorar a nossa performance, por isso não podemos permitir que ela nos impeça de alcançar os nossos objetivos. Ele destaca o exemplo dos psicopatas, que por não fazerem uso do recurso da culpa, seguem repetindo os seus comportamentos destrutivos, sem evoluir. Nesse sentido, a culpa pode ser um agente libertador de transformação.
Para colocar em prática os ensinamentos adquiridos, convidei a minha vizinha para um café, com direito ao mimo de um delicioso bolo, uma forma de agradecer seu gesto de solidariedade que fez a diferença no meu dia. Agora, passo a tocha para a sua mão, faça alguma coisa para tornar agradável o dia do seu vizinho.