Introdução
Este manual foi desenvolvido para servir como um guia prático e objetivo na formulação de políticas públicas. Seu objetivo é proporcionar uma estrutura clara e sistemática para que os gestores públicos possam construir políticas baseadas em evidências, com foco em resultados mensuráveis e sustentáveis. O presente manual foi inspirado em referências amplamente reconhecidas no campo da gestão pública e no texto Políticas Públicas em Dez Passos do Tribunal de Contas da União, sendo estruturado em dez etapas essenciais com exemplos concretos, promovendo, assim, boas práticas de governança.

Passo 1: Identificação do Problema
O primeiro passo na criação de políticas públicas é a clara identificação do problema a ser resolvido. Uma definição precisa é essencial para a efetividade da política, e deve estar fundamentada em dados concretos que permitam compreender a gravidade e a extensão da questão.
- Diagnóstico: O que está acontecendo? Quais são os impactos do problema?
- Causas: Quais fatores contribuem para a persistência do problema?
- Público-alvo: Quem são os mais afetados por esse problema?
Bardach (2012) defende que uma boa formulação de políticas começa com uma definição clara do problema, que permita uma análise profunda e orientada por dados.
Exemplo: Bolsa Família
O diagnóstico do problema mostrou que milhões de brasileiros viviam abaixo da linha da pobreza, sem acesso adequado a alimentos e condições de vida dignas. O público-alvo incluía famílias em situação de vulnerabilidade social.
Passo 2: Análise de Evidências
Após a identificação do problema, a coleta e análise de evidências são cruciais para garantir que a política seja formulada com base em informações sólidas. Essa fase inclui a revisão de dados estatísticos, estudos anteriores e práticas comparativas que auxiliam na fundamentação das decisões.
- Coleta de Dados: Quais são as informações disponíveis sobre o problema?
- Análise: Como esses dados revelam a dimensão do problema e suas causas?
- Benchmarking: Que lições podem ser aprendidas de outras localidades que enfrentam problemas semelhantes?
Dye (2017) enfatiza que a análise de evidências orienta a definição de intervenções eficazes e ajuda a garantir que os recursos públicos sejam aplicados da maneira mais eficiente possível.
Exemplo: Política Nacional de Mobilidade Urbana
Pesquisas de benchmarking foram realizadas em cidades como Bogotá e Nova York, onde sistemas de transporte eficientes já estavam em vigor.

Passo 3: Definição dos Objetivos
Os objetivos da política devem ser claramente estabelecidos, visando mudanças específicas e mensuráveis. Objetivos bem definidos ajudam a orientar as ações e a monitorar os progressos ao longo do tempo.
- Objetivo Geral: O que a política espera alcançar em termos de impacto social?
- Objetivos Específicos: Quais são as metas concretas a serem atingidas?
Lindblom (1959) destaca a importância de objetivos claros para garantir que o progresso possa ser medido e que as políticas estejam alinhadas com as necessidades da sociedade.
Exemplo: Programa Minha Casa Minha Vida
Os objetivos específicos incluíam a construção de milhões de moradias acessíveis em um prazo de cinco anos e a promoção de inclusão social por meio do acesso à habitação digna.
Passo 4: Formulação de Alternativas
Uma vez definidos os objetivos, é necessário explorar alternativas para solucionar o problema. Cada opção deve ser avaliada em termos de eficácia, viabilidade e custo-benefício.
- Alternativas: Quais são as diferentes abordagens possíveis para resolver o problema?
- Análise Custo-Benefício: Qual o retorno esperado de cada alternativa em relação ao seu custo?
- Viabilidade: Qual a probabilidade de sucesso de cada opção?
Bardach (2012) defende que a formulação de múltiplas alternativas promove a inovação e aumenta as chances de encontrar a solução mais eficaz.
Exemplo: Política de Biocombustíveis dos EUA
Cada alternativa foi avaliada com base em critérios como impacto ambiental, custo de implementação e aceitação política.
Passo 5: Escolha da Melhor Alternativa
A decisão sobre qual alternativa será adotada deve ser feita com base em uma análise criteriosa dos custos, benefícios e viabilidade política. A escolha deve ser estratégica e focada em maximizar os resultados esperados.
- Critérios de Decisão: Quais critérios serão utilizados para escolher a melhor alternativa?
- Justificativa: Por que essa alternativa é a mais adequada?
Dye (2017) reforça a necessidade de uma abordagem analítica e criteriosa para garantir que a alternativa escolhida seja a mais eficaz.
Exemplo: Implementação do Sistema Único de Saúde — SUS no Brasil
Na década de 1980, o Brasil escolheu o modelo de saúde pública universal inspirado em países europeus, como o Reino Unido, com a criação do Sistema Único de Saúde — SUS. A decisão foi baseada na viabilidade política e no impacto positivo na saúde da população, garantindo acesso universal a serviços de saúde.

Passo 6: Desenho da Política
Uma vez escolhida a alternativa, o desenho da política deve ser detalhado em termos de ações, prazos, responsabilidades e recursos necessários para sua implementação.
- Plano de Ação: Quais ações serão realizadas para implementar a política?
- Responsáveis: Quem é responsável por cada etapa do processo?
- Cronograma: Qual o prazo para execução de cada atividade?
- Recursos: Quais recursos financeiros e humanos serão necessários?
Dunn (2016) destaca que um plano de ação bem estruturado é fundamental para garantir que a política pública seja implementada de forma eficaz e no prazo previsto.
Exemplo: Programa de Redução de Emissões de Carbono da Noruega
A Noruega desenhou sua política de redução de emissões de carbono com base em um plano de ação que incluía a adoção de veículos elétricos, incentivos fiscais para energia renovável e o uso de tecnologias de captura de carbono. Cada etapa foi detalhada com prazos, responsabilidades e metas de redução.
Passo 7: Formalização da Política
A formalização da política envolve a criação de um instrumento legal que lhe dê legitimidade e garanta sua continuidade, independentemente de mudanças políticas.
- Instrumento Legal: Como a política será formalizada por meio de leis ou regulamentos?
- Estrutura Institucional: Quais instituições serão responsáveis por sua governança?
Bardach (2012) observa que a formalização da política ajuda a institucionalizar as ações e garantir que as decisões tomadas sejam seguidas de maneira consistente.
Exemplo: Lei de Responsabilidade Fiscal — LRF
A Lei de Responsabilidade Fiscal — LRF, publicada em 04 de maio de 2000 no Brasil, formalizou as regras de gestão das finanças públicas, estabelecendo limites para gastos e exigindo transparência na administração dos recursos públicos.
Passo 8: Implementação
A implementação é o processo de transformar o planejamento em ação. Ela requer supervisão constante para garantir que as ações sejam realizadas conforme o plano estabelecido.
- Execução: Como as ações serão implementadas?
- Supervisão: Como será garantido o cumprimento das metas estabelecidas?
Dye (2017) alerta que a implementação mal gerida pode comprometer os resultados da política, tornando essencial um processo de supervisão rigoroso.
Exemplo: Plano Nacional de Educação — PNE
O Plano Nacional de Educação — PNE foi implementado a partir de 2014 com metas para serem alcançadas até 2024. As ações incluíram investimentos em infraestrutura escolar, formação de professores e ampliação da oferta de educação básica e superior. A implementação contou com o acompanhamento de diferentes órgãos e níveis de governo.

Passo 9: Monitoramento e Avaliação
O monitoramento contínuo e a avaliação sistemática são fundamentais para medir a eficácia da política ao longo do tempo e fazer ajustes conforme necessário.
- Indicadores: Quais serão os indicadores de desempenho utilizados?
- Relatórios Periódicos: Como o progresso será monitorado e reportado?
- Feedback: Como os resultados da avaliação serão usados para ajustar a política?
Dunn (2016) afirma que a avaliação contínua é crucial para garantir que a política pública esteja gerando os resultados desejados e ajustando-se às mudanças no ambiente externo.
Exemplo: Programa de Redução de Mortalidade Infantil da Suécia
Na Suécia, o programa de redução da mortalidade infantil foi monitorado e avaliado periodicamente, com base em indicadores como taxas de mortalidade neonatal e acesso aos serviços de saúde pré-natal.
Passo 10: Revisão e Aperfeiçoamento
Após a implementação e avaliação, as políticas públicas devem ser revisadas e aprimoradas com base nos resultados observados. Essa fase garante que a política se mantenha eficaz e relevante ao longo do tempo.
- Correções: Quais ajustes são necessários com base nos resultados da avaliação?
- Adaptações: Como a política pode ser ajustada para continuar a atender às necessidades da população?
Lindblom (1959) destaca que o processo de revisão contínua permite que as políticas públicas evoluam em resposta às mudanças contextuais e novos desafios.
Exemplo: Revisão do Programa Bolsa Família
Essas revisões foram baseadas em estudos e avaliações de impacto que mostraram a necessidade de ajustes para melhorar a eficácia do programa.
Conclusão
Este manual fornece um roteiro prático para gestores públicos no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e eficazes, baseadas em evidências e voltadas para resultados concretos. Ao seguir esses dez passos, qualquer gestor público poderá desenvolver políticas que atendam às necessidades da população de maneira transparente, eficiente, eficaz e sustentável.