Nos moldamos através desses movimentos, nos campos intelectuais, emocionais, sociais e pessoais.

Desde que começamos nossa existência temos o ímpeto de brincar, de buscar satisfação física e emocional em determinadas atividades, adquirindo experiências cognitivas que nos trazem prazer e nos fazem repeti-las. Nos moldamos através desses movimentos, nos campos intelectuais, emocionais, sociais e pessoais. E assim vem ocorrendo com a humanidade ao longo do tempo, desde que começamos a correr, caçar, plantar, lutar, as atividades se tornam parte da nossa identidade, são fatores de impacto em nossa cultura. 

No seu grupo de infância essas atividades uniam as crianças, seja para subir em árvores, andar de bicicleta, brincadeiras de pique, futebol, vôlei, basquete, entre inúmeras outras, os indivíduos se tornavam um coletivo ao redor daquela ação, criavam conexões baseadas naquele interesse em comum, se tornavam uma comunidade onde o único pré-requisito para a aceitação era estar envolvido de alguma forma com a atividade proposta. 

Que a prática esportiva tem impacto positivo na saúde

O esporte é definido como toda atividade física competitiva com regras e objetivos bem definidos. O objetivo de todas as modalidades esportivas é a superação de adversidades, obstáculos e/ou adversários, em absoluto respeito às regras preestabelecidas que balizam aquela prática. Que a prática esportiva tem impacto positivo na saúde, é senso comum, o controle do peso, aumento da força, melhora na imunidade e capacidade de concentração são benesses indiscutíveis, no entanto, a ideia desse artigo é trazer luz aos benefícios de natureza emocional e social. 

Na prática esportiva nos colocamos em situações desafiadoras a cada momento, e estamos lá para passar por esses desafios, aumentar nosso conjunto de conhecimentos e de experiências motoras, realizar tarefas, vencer nossos limites, antes mesmo de enfrentarmos um adversário externo, primeiro a gente batalha internamente, e a cada batalha vencida, obtemos as recompensas, nossa confiança, autoaceitação, nos enxergarmos e sentirmos como campeões, aprendemos a identificar qualidades, a lidar com fraquezas a fim de melhorar, nos controlar, vai muito além da estética, é a saúde na sua integralidade, já que desde 1946 a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social, deixando de ser apenas a ausência de enfermidades. 

O esporte é um fator de coesão, que traz uma sensação de pertencimento aos que praticam

Dentro desse contexto, podemos dizer que o esporte age na autoestima dos praticantes. A popularização do termo autoestima ocorreu dentro das redes sociais, o que levou a uma inversão de conceitos, uma vez que a autoestima passou a ser vista através de comparações com padrões distantes da realidade e distantes do real conceito da expressão, que surgiu em meados da década de 50, sendo composta pelas experiências pessoais, valores e emoções do indivíduo, que refletem em atitudes positivas ou negativas em relação a si, trocando em miúdos, a forma com que uma pessoa se enxerga, se percebe e se valoriza dentro dos seus próprios critérios. 

O esporte é um fator de coesão, que traz uma sensação de pertencimento aos que praticam, e uma vez identificado quem são seus pares, as relações sociais se tornam mais intensas, existem vínculos em que são criados através da atividade, não importando de onde veio, quanto ganha, que cargo ocupa, em que carro chegou, quantos idiomas fala, tudo o que importa naquela sociedade é como se contribui para a obtenção dos resultados, dentro das diretrizes que regem a modalidade escolhida. É uma sociedade pautada na capacidade de produção do indivíduo, não na capacidade de acumulação. Um exemplo claro pode ser o futebol, se sua habilidade com a bola é grande, você pode ser titular, se sua habilidade organizacional é grande, você pode ser o capitão, ou o responsável pela ordem de espera de quem está de próxima, se sua habilidade como churrasqueiro é grande, com certeza seu lugar nessa sociedade é respeitadíssimo, mesmo que nem sempre dentro das quatro linhas.

O respeito às regras, hierarquia, ética, respeito aos adversários, e o entendimento que adversário tem um significado diferente de inimigo

Somos seres sociais, cada vez mais acabamos por nos isolar, e nos apoiar nas tecnologias para termos um vislumbre de uma conexão humana, com isso, perdemos muito a essência da vida em sociedade, como a capacidade de aceitação de diferenças, saber brincar e receber brincadeiras, saber como contribuir. Esses elementos estão presentes nas atividades esportivas de forma direta, são valores que, desde a origem dos esportes em 7.000 a.C., já eram praticados e cultivados nesses ambientes. O respeito às regras, hierarquia, ética, respeito aos adversários, e o entendimento que adversário tem um significado diferente de inimigo. As razões para praticar são inúmeras, também quando se trata de educação de crianças, todos esses valores são transmitidos, não é só o velho “para ela gastar energia”, as crianças envolvidas com atividades esportivas lidam com sensações de frustração, superação, vitória, derrota, tudo o que nós seres humanos experimentamos numa base regular ao longo da vida, mas o esporte prepara elas para saber lidar melhor com esses momentos quando eles se apresentarem, garantem um arcabouço de aprendizados diários que balizam o entendimento de que competir pode ser saudável, que ganhar é ótimo, mas que toda a derrota traz um aprendizado como beleza oculta.

Claro que muita gente que leu até aqui pode estar pensando que vai para a academia, e isso é ótimo, importantíssimo, principalmente se sua razão não for só estética, já está melhor que muita gente.

Fica então a reflexão, se as atividades esportivas trazem benefícios diretos à saúde física, mental, social, melhoram a autoestima e o sentimento de pertencimento, auxiliam no processo de educação das crianças, ajudam a formar cidadãos mais aptos e participativos, quando foi que passamos a negligenciar essa prática? Claro que muita gente que leu até aqui pode estar pensando que vai para a academia, e isso é ótimo, importantíssimo, principalmente se sua razão não for só estética, já está melhor que muita gente. Mas, se você calçar um tênis, e sair andando pela calçada ao ar livre, já é uma caminhada, pode ser o início de algo, e nesse caminho terá mais gente fazendo o mesmo, e você pode convidar alguém para ir junto, e esse alguém chamar alguém, e tentar ir mais rápido um dia, ou por mais tempo, ou tentar mudar e pedalar, testar um esporte com bola, com raquete, subir numa parede, entrar numa piscina, as opções são diversas, todas elas são melhores do que nenhuma.